Treino de Força para Jiu-Jitsu: Entendendo a Importância e os Fundamentos
Tempo de leitura: 12 min
Escrito por Marks Esports
em 5 de junho de 2025
Treino de Força para Jiu-Jitsu
Por Que o Treino de Força é Essencial para Quem Pratica Jiu-Jitsu?
O jiu-jitsu é uma arte marcial que, por natureza, prioriza a técnica sobre a força bruta. Entretanto, qualquer praticante experiente sabe que, em níveis mais altos, a diferença entre vencer e perder muitas vezes está nos detalhes. E um dos detalhes mais subestimados é o treino de força para jiu-jitsu.
Engana-se quem acredita que fortalecer o corpo é apenas uma questão estética ou secundária no jiu-jitsu. Na realidade, a força bem aplicada potencializa todas as suas qualidades técnicas, melhora o desempenho, reduz drasticamente o risco de lesões e aumenta sua longevidade no esporte.
A maioria dos praticantes amadores e até alguns profissionais negligenciam esse pilar do desenvolvimento físico, apostando apenas no treino técnico e no rola. Isso, a longo prazo, se traduz em limitações físicas, queda de rendimento e até lesões crônicas.
Benefícios Reais do Treino de Força para Jiu-Jitsu
Aumento da resistência muscular específica
Melhora do controle corporal e da estabilidade nas posições
Geração de força aplicada em isometrias e explosões
Prevenção de lesões nas articulações, ligamentos e músculos
Desenvolvimento de grip strength (força de pegada)
Capacidade de suportar o peso do adversário sem desgaste excessivo
Aumento da eficiência nas transições, raspagens e finalizações
Ou seja, não se trata de ficar “forte” no sentido estético, e sim de construir um corpo preparado para as exigências físicas reais do tatame.
Entendendo as Demandas Físicas do Jiu-Jitsu
Antes de começar qualquer protocolo de treino de força para jiu-jitsu, é fundamental entender quais capacidades físicas esse esporte exige.
Isometrias constantes: Manter uma pegada, travar um quadril, segurar uma posição de guarda fechada.
Explosões rápidas: Passagens de guarda, quedas, raspagens e contra-ataques.
Resistência muscular: Principalmente em grips, core, costas e pernas.
Mobilidade articular: Especialmente no quadril, ombros e coluna lombar.
Força excêntrica: Controlar o movimento enquanto sofre tração, resistência ou impacto.
Portanto, um bom treino de força deve ser pensado de forma específica, respeitando a lógica das demandas do esporte.
Mitos que Precisam Ser Quebrados
Antes de avançarmos, é importante desmistificar alguns conceitos ultrapassados:
“Fazer treino de força vai me deixar lento no jiu-jitsu” – MITO. Na verdade, a força gera mais potência, o que permite movimentos mais rápidos e eficientes.
“Fazer musculação deixa duro e travado” – MITO. O problema não é a musculação, mas sim a falta de mobilidade associada ao treino.
“O melhor treino é só rolar e fazer drills” – MITO. Isso é uma meia verdade. O treino técnico é fundamental, mas sem desenvolvimento físico, seu progresso tem limite.
Princípios do Treino de Força para Jiu-Jitsu
Todo programa bem estruturado para atletas de jiu-jitsu deve seguir alguns princípios fundamentais:
1. Especificidade
Os exercícios devem simular, ou ao menos contribuir diretamente, para os movimentos e demandas do jiu-jitsu.
2. Progressão Gradual
Aumentar cargas, repetições ou volume de forma planejada, evitando picos que causem overtraining ou lesões.
3. Equilíbrio entre Força e Mobilidade
Fortalecer sem comprometer a amplitude de movimento. A mobilidade é tão treinável quanto a força.
4. Foco em Cadeias Musculares
Priorizar movimentos multiarticulares e funcionais, como agachamento, levantamento terra, remadas e exercícios para grip.
5. Treinar Força, Não Hipertrofia Excessiva
O objetivo não é ganhar volume muscular desnecessário, mas sim gerar força relativa (força em relação ao próprio peso corporal).
Quais Grupos Musculares Precisam de Mais Atenção?
Embora o treino seja completo, alguns grupos musculares são especialmente exigidos no jiu-jitsu:
Antebraços e pegada: Para manter grips fortes e resistentes.
Core (abdômen, lombar e oblíquos): Estabilidade em qualquer posição.
Costas (dorsal, trapézio, romboides): Para puxar, controlar e resistir.
Pernas (glúteos, posteriores e quadríceps): Geram força nas quedas, raspagens e movimentações.
Ombros: Resistência e força para posturas defensivas e ofensivas.
Estrutura do Treino de Força para Jiu-Jitsu
O treino ideal é composto por 4 pilares:
Força Máxima – Trabalhada com cargas altas (80% a 90% de 1RM) e baixas repetições (3 a 5).
Força Explosiva (Potência) – Uso de cargas médias e movimentos rápidos.
Resistência Muscular Específica – Séries moderadas (8 a 12 repetições) com foco na resistência dos músculos mais usados no tatame.
Isometria e Grip Strength – Trabalhos específicos para pegada e contrações mantidas, como puxadas estáticas, hang holds e farmer walks.
Exemplo de Divisão Semanal (Treino Base)
Dia
Tipo de Treino
Foco Principal
Segunda
Força Máxima
Agachamento, Terra, Remada
Quarta
Isometria + Grip
Puxadas, Farmer Walk, Hold de Pegada
Sexta
Força Explosiva
Kettlebell Swing, Medicine Ball, Saltos
Observação: Essa é uma divisão base. A quantidade de treinos deve respeitar seu volume de treino no tatame.
Quais São os Melhores Exercícios para Quem Pratica Jiu-Jitsu?
O jiu-jitsu exige um tipo de força que não é puramente de academia tradicional. Portanto, é necessário escolher exercícios que trabalhem tanto os grandes grupos musculares quanto habilidades específicas, como estabilidade, força de pegada e resistência isométrica.
Aqui estão os exercícios que devem ser a base do treino de força para jiu-jitsu:
✅ Exercícios Multiarticulares (Força Geral)
Estes movimentos trabalham grandes cadeias musculares e têm alta transferência para o tatame.
Agachamento livre: Melhora força nas pernas, quadril e core. Essencial para quedas, raspagens e movimentação.
Levantamento Terra (Deadlift): Potencializa força nas costas, glúteos e pernas. Excelente para puxadas e estabilização.
Remada Curvada: Fortalece as costas, fundamentais para controlar o adversário e manter pegadas fortes.
Supino com Barra ou Halteres: Dá estabilidade na parte superior, principalmente nas posições de pressão e defesa.
Desenvolvimento Militar: Fortalece ombros, trapézio e estabilidade do core.
Puxada na Barra Fixa: Essencial para pegada, costas e resistência em puxadas, como na guarda ou quedas.
✅ Exercícios Específicos para Pegada (Grip Strength)
A pegada é um dos elementos mais importantes no jiu-jitsu. Sem uma boa pegada, toda técnica fica comprometida.
Farmer Walk com Toalha: Segurar uma toalha enrolada na barra e caminhar com pesos nas mãos. Simula o aperto no quimono.
Penduradas na Barra (Dead Hang): Segurar o peso do corpo por tempo máximo, evoluindo com sobrecarga ou uma mão.
Remadas com Toalha: Usar uma toalha passada na barra para puxadas e remadas, simulando pegadas no quimono.
Puxadas com Elásticos: Foco na resistência específica da pegada.
✅ Exercícios Isométricos (Força de Controle)
O jiu-jitsu é cheio de situações onde se precisa manter uma posição, e isso exige força isométrica.
Prancha Abdominal (variações): Fortalece o core para raspagens, quedas e defesas.
Wall Sit (sentar na parede): Fortalecimento das pernas para posturas e base forte.
Hold de Barra com Peso: Segurar a barra carregada na posição de topo do deadlift, aumentando resistência das mãos, antebraços e costas.
✅ Força Explosiva (Potência)
Essencial para quedas, passagens rápidas e contra-ataques.
Kettlebell Swing: Desenvolvimento de potência no quadril e core.
Med Ball Slam: Explosão e trabalho de tronco.
Saltos na Caixa: Potencializam força explosiva nas pernas.
Lançamento de Medicine Ball: Aceleração e explosão dos membros superiores.
Como Montar um Treino de Força para Jiu-Jitsu Eficiente?
O grande erro de muitos atletas é copiar treinos de fisiculturistas ou de atletas de outros esportes. O treino de força para jiu-jitsu deve ser funcional, específico e bem planejado.
📌 Regra de Ouro:
O treino não pode te deixar tão fadigado a ponto de prejudicar sua performance no tatame. O objetivo é ser complemento, não substituição.
🚀 Modelo de Rotina Semanal (Sugestão)
Dia
Foco
Objetivo Principal
Segunda
Força Máxima
Agachamento + Terra + Remada
Terça
Tatame (Técnica + Rola)
Quarta
Grip + Isometria + Core
Farmer Walk + Prancha + Remada com Toalha
Quinta
Tatame (Técnica + Rola)
Sexta
Potência + Mobilidade
Kettlebell Swing + Saltos + Med Ball Slam
Sábado
Tatame (Rola leve ou técnica)
Domingo
Descanso
📌 Dicas Importantes:
Se treina jiu-jitsu 4x na semana, mantenha 2 treinos de força.
Se treina jiu-jitsu 2 ou 3x, pode fazer até 3 treinos de força.
Sempre priorize a qualidade dos movimentos.
Volume, Carga e Progressão
Para que o treino gere resultado, é necessário respeitar alguns parâmetros:
Força Máxima: 3 a 5 séries de 3 a 5 repetições. Carga pesada (80% a 90% de 1RM).
Resistência Muscular: 3 a 4 séries de 8 a 12 repetições. Carga moderada.
Potência: 3 a 4 séries de 5 a 8 repetições. Foco na velocidade, não no peso máximo.
Isometria: 3 a 5 séries de 30 a 60 segundos de contração máxima.
Como Integrar o Treino de Força com o Tatame sem Ficar Exausto?
O erro comum de quem começa a treinar força junto com o jiu-jitsu é não saber equilibrar os estímulos.
Aqui estão estratégias para evitar isso:
Distribuir o treino de força longe dos treinos mais intensos do tatame.
Diminuir o volume quando se aproximar de campeonatos, mantendo intensidade.
Priorizar recuperação: Sono de qualidade, alimentação adequada e, se possível, mobilidade e alongamentos ativos.
Ciclar os treinos: Alternar semanas mais leves com semanas mais pesadas.
E a Mobilidade? Onde Entra?
Um erro clássico de quem treina força é negligenciar a mobilidade. No jiu-jitsu, mobilidade é tão essencial quanto força.
Inclua sempre ao final dos treinos:
Alongamentos dinâmicos (mobilidade ativa) para quadril, tornozelos, ombros e coluna.
Exercícios como 90/90 para quadril, alongamento de ponte para coluna, alongamento de torção para coluna torácica.
Trabalhos com bastões ou elásticos para preparar articulações.
Os Erros Mais Comuns no Treino de Força Para Jiu-Jitsu
Mesmo com boa intenção, muitos praticantes cometem erros que acabam atrapalhando sua evolução no tatame e nos treinos de força. Abaixo estão os principais equívocos:
Exagerar no Volume de Treino
O jiu-jitsu por si só já é extremamente desgastante. Adicionar treinos de força muito volumosos pode gerar fadiga crônica, lesões e até queda no desempenho.
Solução: Foque em treinos curtos, porém intensos. De 45 minutos a 1 hora é mais que suficiente.
Fazer Treinos Estilo Fisiculturismo
Exercícios isolados, ênfase estética e grandes volumes são ineficientes para quem busca performance no jiu-jitsu.
Solução: Prefira treinos com movimentos compostos, trabalho de core, pegada e força funcional.
Negligenciar a Mobilidade e Recuperação
Muitos acham que só força resolve. Sem mobilidade, sua técnica fica travada, além de aumentar riscos de lesões.
Solução: Inclua sessões curtas de mobilidade no pós-treino ou em dias de descanso.
Fazer Cardio em Excesso
Pensar que mais cardio significa melhor condicionamento é um erro. Cardio mal planejado pode atrapalhar ganhos de força e potência.
Solução: Prefira treinos intervalados (HIIT) de curta duração, que simulam melhor a realidade do rola.
Não Ter Periodização
Treinar sem uma estratégia definida leva à estagnação, lesões e baixo rendimento.
Solução: Planeje ciclos de treino que considerem carga, descanso e fases específicas.
Dicas Avançadas Para Acelerar Seus Resultados
Se você já treina, está na hora de levar seu treino de força para jiu-jitsu a outro patamar. Aqui estão técnicas avançadas e extremamente eficazes:
Cluster Sets
Quebra uma série pesada em pequenas “mini-séries” com pausas curtas (10 a 20 segundos).
Permite usar cargas mais altas mantendo técnica e força.
Exemplo: 1 série de 5 repetições vira 5×1 com 15 segundos entre cada.
Treino Concorrente Otimizado
Combine força e potência no mesmo treino, mas sem misturar estímulos errados.
Exemplo: Agachamento pesado seguido de saltos na caixa.
Isometria Sob Carga
Adicione pausas isométricas durante o movimento.
Exemplo: Na remada curvada, segurar 3 segundos na parte mais difícil da puxada.
Sobrecarregar Pegada de Forma Inteligente
No final dos treinos, inclua farmer walks, hangs na barra e remadas com toalha até a falha.
A força de pegada nunca será “excesso” para o jiu-jitsu.
Autoregulação
Aprenda a ouvir o corpo. Se está muito cansado do tatame, reduza carga, volume ou troque treino pesado por mobilidade.
Como Periodizar o Treino de Força Para Jiu-Jitsu
Se você quer realmente ter performance no tatame, precisa pensar no seu treino como um atleta. A periodização é o caminho para isso.
🎯 Modelo Simples de Periodização Para Praticantes de Jiu-Jitsu:
Fase
Duração
Objetivo Principal
Base de Força
4 a 6 semanas
Aumentar força máxima. Pouco volume, alta carga.
Potência + Força
3 a 5 semanas
Converter força máxima em potência.
Manutenção + Técnica
Durante camp ou competição
Manter força, reduzir volume. Foco no tatame.
Recuperação Ativa
1 a 2 semanas
Volume e intensidade bem baixos. Mobilidade, cardio leve, correções.
📌 Exemplo de Ciclo Anual Simples:
Janeiro a Março: Foco em força máxima.
Abril a Maio: Transição para potência e força específica.
Junho: Camp para campeonato → manutenção da força, aumento de técnica e rola.
Julho: Recuperação ativa.
Agosto a Setembro: Nova fase de força.
Outubro a Novembro: Potência + técnica.
Dezembro: Redução → Mobilidade, cardio leve, correção de padrões.
Alimentação e Recuperação: O Combustível do Sucesso
Treinar pesado no tatame e na academia exige muito do seu corpo. Se você não ajusta a alimentação e o descanso, os resultados não aparecem.
✅ Regras de Ouro:
Comer proteína suficiente (1.6 a 2.2g por kg de peso).
Manter carboidratos para energia (principalmente antes e após treinos).
Sono de qualidade (mínimo 7 horas por noite).
Hidratação constante.
⚠️ Suplementos Que Fazem Sentido:
Creatina: Melhora força, potência e recuperação.
Whey Protein: Praticidade para atingir proteína diária.
Omega-3: Ação anti-inflamatória.
Cafeína: Melhora desempenho em treinos e no tatame.
Conclusão: A Chave Para Um Jiu-Jitsu Forte Está Fora do Tatame
O treino de força para jiu-jitsu não é mais opcional. Quem leva o esporte a sério entende que desenvolver força, potência e resistência fora do tatame impacta diretamente na evolução técnica, na capacidade de suportar rolas longos e, principalmente, na prevenção de lesões.
Seja você faixa branca, azul ou faixa preta, aplicar o que foi ensinado aqui fará você se destacar. Lembre-se: a força não é o oposto da técnica — ela potencializa a sua técnica.
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